sábado, 29 de setembro de 2012

Perfume e o audiovisual


Essa semana eu tive minha primeira aula de redação publicitária e como exercício inicial, o professor pediu que criassemos uma campanha de perfume baseado apenas na amostra que nos foi dada. A partir do cheiro, teríamos que imaginar a que tipo de público aquela fragância era dirigida, qual a trilha sonora mais apropriada e qual a melhor direção de arte para uma campanha. Mas parece uma coisa impossível, né...Como vou vender um perfume sendo que os espectadores não poderão sequer sentir seu cheiro? 
Mas não é isso mesmo que é a propaganda? O que é vendido ao público não é o produto e sim todo o conceito com ele associado. A Coca-Cola não está vendendo somente o refrigerante, mas toda uma idéia de felicidade a seu alcançe: compre uma garrafa e seu dia sera maravilhoso. Por isso é tão interessante assistir a comerciais de perfume, pois podemos perceber as mais diversas interpretações audio-visuais de um simples aroma. 

O nosso ofalto está muito conectado à nossa memória. Quando sentimos um cheiro bom podemos lembrar de situações agradáveis da nossa vida com maior clareza. A indústria percebeu isso, e agora brinca com nosso cérebro fazendo o processo inverso. Quando vemos cenas em comerciais que invocam desejos e lembranças boas, criamos uma conexão com aquele perfume sem nem termos sentido o seu cheiro! eike loucura

Muita gente assiste propaganda de perfume e acha tudo uma loucura sem sentido, tenho certeza. Ainda mais quando são aquelas européias, que sempre tem gente falando naquele sotaque francês caregadíssimo e umas trilhas sonoras absurdas. Mas tudo faz muito sentido quando você para pra pensar!



Por exemplo, essa propaganda de perfume é uma das minhas preferidas. Uma modelo vestindo orelhas de gato e um vestido bapho corre linda pelos telhados de Paris, enquanto faz caras e bocas pra câmera, ao som de uma música instrumental e com a bendita voz francesa repetindo o nome do perfume. Todos os elementos procuram passar uma idéia "fofa, mas misteriosa": enquanto o tom rosado predomina nas cenas, a modelo veste um esvoaçante vestido preto. Ela faz caretas pra câmera, mas está sempre fugindo. Como que você imagina o cheiro do "Ricci Ricci" agora? Aposto que é algo doce, uns tons mais profundos e elegante, com um toque de ousadia, certo? Não sei nada de perfume, então joga no google: "(...)the scent is said to smell like rhubarb zest and bergamot. There is also something among the top notes called belle de nuit, also known as the “four o’clock flower.” To further complicate things, the base notes are made up of sandalwood and patchouli; this will give the perfume the mature scent Ricci is aiming for." (segue o link!)
Opa, viu só? 





Vamos tentar com um espectro totalmente diferente. Você vê essa propaganda, o modelo bonitão estalando os dedos e conseguindo dinheiro, carros, fama e a mulherada ao som de uma trilha mais eletronica e animada e pensa que o perfume cheira como? Um aroma bem masculino, forte, daqueles que você chega no lugar e todo mundo sabe que você chegou? Um cheiro de coisa cara e exclusiva? Hm, talvez até um toque amadeirado? Pois é: "The fragrance is composed of a blond leather and a patchouli base that blends into rose and cinnamon and finishes off with bloody mandarin, peppermint and frosted grapefruit. It’s a noticeably sweeter smell for a woody scent that manages to still pack a punch." (link de novo!)

Depois de assistir esses dois comerciais, fala que não deu vontade de sair e comprar o perfume da Nina Ricci e se tornar uma menina fofa, descolada e misteriosa ou um homem que é notícia? É exatamente esse o propósito das propagandas e o audiovisual serve como componente essencial na construção do imaginário por trás do produto. 
Esses são só dois exemplos em um maaaar de escolhas. Quem assiste mais tv paga agora vai poder brincar de adivinhar o cheio baseado nas propagandas viajadas de perfume europeu também (ou as vezes essa sou só eu hehe) 
Beijo :)


Postei ouvindo: nada, tô essa música da propaganda na cabeça.

Um comentário:

Malu disse...

propaganda de perfume dá tanto pano pra manga que eu já fiz um trabalho sobre isso numa disciplina do primeiro período da belas artes. mas você tá certinha, mari. o negócio não é vender um produto, mas uma ideia e as marcas de perfume já tiveram essa sacada há séculos. fica de dica pra você a de flower by gucci.

PS.: comprei o miss dior sem nem sentir o cheiro só porque gostei da propaganda com a natalie portman. e nem era na TV, era numa revista. mas a ideia era tão atraente que eu resolvi comprar, afinal de contas, ela tinha acabado de ganhar um oscar.

PS 2.: um cara aleatório num pub me parou na semana seguinte e disse que eu era a cara dela ;) uma coincidência, mas no mínimo interessante.